sábado, 29 de março de 2008

Anencéfalos

Anencéfalo: substantivo masculino. 1 ter. Diz-se de, ou aquele que apresenta anencefalia.
Anencefalia: substantivo feminino. 1 ter. Monstruosidade em que não há abóbada craniana e os hemisférios cerebrais ou não existem, ou se apresentam como pequenas formações aderidas à base do crânio.
Morte cerebral: 1 Neur. Conjunto de alterações neurológicas irreversível [ausência de resposta a qualquer estímulo, ausência de qualquer atividade muscular espontânea (inclusive de respiração, calafrios, etc) e, pelo eletroencefalograma, completa falta de atividade cerebral] desde que tal conjunto de alterações não se deva a hipotermia ou intoxicação por substâncias depressoras do Sistema Nervoso Central.

Feitas as devidas apresentações pelo "Pai dos burros" Aurélio, agora posso discorrer sobre meus raciocínios. Falarei sobre um assunto que está levantando furor no Supremo Tribunal Federal (STF) : o aborto. Aliás o STF não está tratando somente desse tema, mas, digamos, do tema reprodução em geral, englobando as células-tronco também. Para este texto não ficar deveras longo, focarei só o aborto.

A História sobre leis de aborto no Brasil começaram em aproximadamente 1900, as mulheres que o praticavam eram punidas, dado atenuante somente em caso de estupro ou quando a gravidez oferecesse risco à mãe. Essa lei tem mais de 100 anos e viveu muito bem inquestionável neste período. Todavia, não imaginavam a “revolução tecnológica”, responsável pelos métodos de imagem, como Ultra-som (US) e Ressonância Nuclear Magnética (RNM), empregados na Medicina e, por conseguinte, na Obstetrícia. A partir de algumas poucas semanas, se não me falha a memória 12, é possível o US detectar algumas anomalias presentes na criança, dentre elas a Anencefalia.

“Ta, e daí?”, vocês me perguntam. O fato é o seguinte: se o conceito de morte cerebral (ou encefálica) é a ausência de atividade cerebral e ultimamente o conceito de vida de um embrião deve-se ao surgimento do sistema nervoso, eu pergunto: “o que fazer com uma criança que nem cérebro tem?”. Sei que parece meio mórbido, quase um infanticídio o meu raciocínio, porém pensem comigo: uma criança que nem cérebro tem como vai sobreviver? A mãe vai carregar no ventre por 09 meses a dor de ter um filho que no máximo servirá para doar os órgãos para outras crianças, isso se a morfologia e função deles for adequada. Eu não estou aqui para dizer que o aborto DEVE ser instituído, mas deve ser dada a oportunidade ao casal, ou melhor, à mãe que vai gestar está criança escolher se quer ou não. Em 2005 chegou-se a cogitar a possibilidade de mudança de lei; fizeram até liminares e emendas e sei lá mais o quê, que davam direito às mães de interromper a gestação de uma criança comprovadamente anencefálica. Mas como tudo no Brasil a gente dorme de um jeito e acorda de outro (basta lembrar da inflação no período Collor), eles revogaram tudo a respeito e voltou-se a resguardar somente os casos de estupro e risco de gravidez.

Para aumentar ainda mais meu desejo de discorrer sobre o assunto, eu assisti um vídeo esta semana, numa aula de Genética Médica, que falava de tal assunto em 2005/2006 se não me engano. Mostrou membros do STF dando suas opiniões, umas contra e outras a favor, outras boas e outras absurdas. O auge da burrice na minha singela opinião foi quando um deles falou algo semelhante a isso: “mas ele tem boquinha, tem coraçãozinho...”, gente, ELE NÃO TEM CÉREBRO!! O feto só se mantém “vivo” porque está dentro do corpo da mãe! Faço uso das palavras de outro membro do STF: “ele vai ser algo e não alguém”. Sei que é difícil de acreditar, mas é preciso aceitar que essas crianças não vão viver para o próximo aniversário e nem todas as mães querem ter a heróica e, porque não, nobilíssima missão de parir um filho para ser um doador de órgãos. Ter um filho que é produto de um estupro deve ser terrível e ao dor de ter um filho que já se sabe que não vai viver?! São dores diferentes, mas, ainda sim, são dores! O filho de um estupro pode nascer e ser um membro útil da sociedade, o anencéfalo não, aliás, os médicos nem mostram quando estas crianças nascem, para não chocar os pais. O que torna o filho de um estupro mais urgente de ser eliminado que uma criança que não vai passar de alguns dias?

Penso que antes de ficarmos fazendo emendas e remendas na lei devemos reformar toda uma mentalidade acerca de gravidez de risco, gravidez de dor e o “curtir a gravidez”. Só assim os membros do STF vão entender e discutir mudanças sem falsos-moralismos, pois eles como homens não entendem muito de gravidez, exceto no que concerne o atendimento dos “desejos de grávida”. Gostarei de ver um debate inteligente, ou vou começar a desconfiar que não existem só crianças anencéfalas, mas adultos anencéfalos não por não terem cérebro, mas por não usarem o que tem dentro da cabeça.

Obs: escrevi este texto tem alguns dias, se alguém souber de alguma novidade sobre o fato, pode postar aqui! Obrigada!

quarta-feira, 19 de março de 2008

O Sistema

Após anos de resistências e desculpas resolvi aderir ao mundo dos bloggeiros, uma porque vi que eles são interessantes e outra porque sempre disse querer um assunto pitoresco para começar o meu. Eis a oportunidade.

Ontem, Paula, Jule e eu resolvemos "dar uma desestressada pós-prova", até aí tudo bem, resolvemos ir numa boate que havia sido reformada certo tempo atrás. Depois de comprar o ingresso ANTECIPADO (notem bem esta palavra, será muito importante na história) nos arrumamos e fomos ao bendito lugar. Após todas aquelas cerimônias de RG, entreguei o convite na mão de uma ATENDENTE (outro ponto X) das 4 do recinto.

A festa estava longe, mas muito longe de ser a minha festa preferida: sertanejo (nada contra Paula, mas tu bem conheces o meu estilo). Aproveitei do jeito que pude, ora rezando para cair uma bomba no palco, ora dançando e cantando as músicas conhecidas (tá no inferno...). Chegado o momento de ir embora o meu cartão e somente o meu cartão estava cobrando a entrada, esta comprada horas antes de eu sequer pensar em entrar na boate, ou seja, ANTECIPADA.

Após um diálogo muito "inteligente" com a atendente que me cobrava a entrada ela pergunta: "mas você não lembra para qual ATENDENTE você entregou o convite?", a primeira resposta que me veio na cabeça foi: "pro Papa". Mas como não podia perder a razão e a bem da verdade eu não lembrava com certeza da cara da menina eu falei que não sabia ao certo e apontei 2 possíveis pessoas e exclui com certeza as outras 2. Seguidas certas trocas de farpas, eu não aguentei: dei um murro no balcão o suficiente para as atendentes me olharem e o "Gerente do estabelecimento" (como ele mesmo se auto-definiu) chegar.

O melhor de tudo foi o gerente me explicando como funcionava o SISTEMA de contagem do lugar e ele falou que estava correto e que eu deveria pagar. Todavia, todo sistema tem uma falha, depois de encontrá-la, olhei para o gerente e falei +/- assim: "moço, tu estás vendo aquela câmera alí, não é? Eu sei que tu não tens acessso ao vídeo hoje, mas amanhã tu vais assistir esta fita e vai ver que eu entreguei o convite para uma dessas moças da portaria. Se por algum acaso eu não aparecer entregando o convite, tudo bem, eu venho amanhã aqui, afinal meu celular está no cartão de vocês, e pago o valor da entrada, pois esse valor não me fará ficar pobre. O que não é justo é eu pagar isso sem tu provares para mim que eu estou errada". Acreditem ou não eu falei isso sem gritar, espernear ou me estressar e por conta disso, ele achava que estava lidando com patricinha bobinha e ficava tentando me dobrar. No decorrer da conversa eu falei: "querido, você já viu todo o constrangimento que está me causando? Além de outros danos morais..." (e mais outras coisas que não lembro agora). Quando ele viu que eu não era acéfala (ser filha de advogado nessas hrs salva o couro), isentou a minha entrada.

Este grande preâmbulo foi para falar de uma palavrinha: Sistema. Este ser de outro mundo o qual nunca vimos, mas sempre ouvimos falar dele. O sistema está em todos os lugares do mundo moderno, seja na padaria que tu pagas com o teu cartão de crédito ou no lugares do mais alto gabarito. Os humanos dizem que o Sistema é baseado em tecnologia governada por humanos especialistas, no entanto quando o humano erra a culpa vai para o Sistema. Pobre Sistema, não tem o direito de se defender. Por quê ao invés de culpar o Sistema, o Homem especialista não assume sua falha? Em bancos, o Sistema fica fora do ar em sexta-feira às 15:00 ou em dias que o brasileiro tem que tirar o seu mísero salário para pagar as contas; nas lojas, o sistema não aprova seu crédito... E o sistema vai padecendo, padecendo... O que falta não é melhorar o sistema e sim, caros colegas, o Humano que lida com ele.